09 abril 2008
É LOUCURA QUE NÃO SE PERCEBE
.
Depois de oito dias seguidos, os pulmões do Poeta e de Espelho precisavam do ar puro, mas não tinham mais tempo. Precisavam voltar. Espelho para as rezas confusas da sua mãe e do povo daquele lugar. Poeta tinha que seguir o caminho em busca da fazenda de Samburá.
Na estrada, o carro seguia vagarosamente: na mente do Poeta, uma nostalgia pré-existente acariciava-lhe o peito amarelo-saudade por causa de Espelho.
O celular toca.
- Olá! - Poeta? Aqui é Fred Samburá! Você chega quando?
- Em poucas horas...
- Está tudo bem?
- Sim. E por aí? - pergunta, o Poeta, percebendo algo de estranho no tom de Fred
- Houve um acidente na estrada... Fiquei preocupado. Resolvi ligar. Chega para o almoço?
- Chego para o almoço.
- Poeta, você chega para o almoço de hoje?
- Sim... Para o almoço de hoje! - responde rindo com alegria, o Poeta.
O celular toca outra vez. Um número nunca visto antes. O Poeta abre a janela de seu veículo, e lança o celular com a força de muitas raivas guardadas.
- Por que você fez isso? - Grita apavorada, Espelho.
- Para quê tanto escândalo?
- O seu celular...
- Sim... Agora não é mais.
- Poeta, você é um louco.
Espelho e Poeta faziam o silêncio mais gritante que poderiam imaginar. O tempo e o carro deslizavam. O veículo foi perdendo velocidade. E foi parando, parando, até chegar em frente ao boteco do homem gordo de traseiro estreito. Antes de Espelho sair, o Poeta segurou-a pelas mãos.
- Por que seu nome é Espelho?
- Porque, em mim, você se via a si mesmo.
- Eu não estranharia ninguém que jogasse fora um celular, e você estranhou.
- E eu não jogaria jamais um celular pela janela de um carro em movimento, e você jogou.
- Então eu não poderia, em hipótese alguma, ver a mim mesmo em você.
- Tanto viu e reconheceu que...
- Espelho, espere!
- Diga!
- Você não acha loucura muita um celular? As pessoas conseguem lhe encontrar em qualquer hora e lugar! Antes de perguntarem se tudo vai bem, perguntam logo onde estão, o que estão fazendo, se vão demorar, se há um telefone fixo por perto, enfim, fazem um questionário, e, só depois dizem o que querem, e antes de se despedirem, perguntam pela saúde e felicidade sem se importarem com as respostas, apressadamente, contabilizando os custos...
- Poeta, os celulares não têm culpa...
- Eu sei... As pessoas não pensam mais. Eu joguei meu celular fora. Para o meu celular, fui um justo juiz. Para mim, para você e quase todos de tão todos, sou um louco.
- Poeta, tenho que ir. Tenho minhas dores para cuidar. Cuide das suas. Encontre Samburá.
- Espelho, você pensa!
- Não. Eu não penso. É porque você está, agora, se olhando em mim.
- Espelho, eu sou louco?
- Muito pouco... É loucura que não se percebe.
E Poeta seguiu pela estrada, rumo à fazenda de Fred Samburá.
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Depois de oito dias seguidos, os pulmões do Poeta e de Espelho precisavam do ar puro, mas não tinham mais tempo. Precisavam voltar. Espelho para as rezas confusas da sua mãe e do povo daquele lugar. Poeta tinha que seguir o caminho em busca da fazenda de Samburá.
Na estrada, o carro seguia vagarosamente: na mente do Poeta, uma nostalgia pré-existente acariciava-lhe o peito amarelo-saudade por causa de Espelho.
O celular toca.
- Olá! - Poeta? Aqui é Fred Samburá! Você chega quando?
- Em poucas horas...
- Está tudo bem?
- Sim. E por aí? - pergunta, o Poeta, percebendo algo de estranho no tom de Fred
- Houve um acidente na estrada... Fiquei preocupado. Resolvi ligar. Chega para o almoço?
- Chego para o almoço.
- Poeta, você chega para o almoço de hoje?
- Sim... Para o almoço de hoje! - responde rindo com alegria, o Poeta.
O celular toca outra vez. Um número nunca visto antes. O Poeta abre a janela de seu veículo, e lança o celular com a força de muitas raivas guardadas.
- Por que você fez isso? - Grita apavorada, Espelho.
- Para quê tanto escândalo?
- O seu celular...
- Sim... Agora não é mais.
- Poeta, você é um louco.
Espelho e Poeta faziam o silêncio mais gritante que poderiam imaginar. O tempo e o carro deslizavam. O veículo foi perdendo velocidade. E foi parando, parando, até chegar em frente ao boteco do homem gordo de traseiro estreito. Antes de Espelho sair, o Poeta segurou-a pelas mãos.
- Por que seu nome é Espelho?
- Porque, em mim, você se via a si mesmo.
- Eu não estranharia ninguém que jogasse fora um celular, e você estranhou.
- E eu não jogaria jamais um celular pela janela de um carro em movimento, e você jogou.
- Então eu não poderia, em hipótese alguma, ver a mim mesmo em você.
- Tanto viu e reconheceu que...
- Espelho, espere!
- Diga!
- Você não acha loucura muita um celular? As pessoas conseguem lhe encontrar em qualquer hora e lugar! Antes de perguntarem se tudo vai bem, perguntam logo onde estão, o que estão fazendo, se vão demorar, se há um telefone fixo por perto, enfim, fazem um questionário, e, só depois dizem o que querem, e antes de se despedirem, perguntam pela saúde e felicidade sem se importarem com as respostas, apressadamente, contabilizando os custos...
- Poeta, os celulares não têm culpa...
- Eu sei... As pessoas não pensam mais. Eu joguei meu celular fora. Para o meu celular, fui um justo juiz. Para mim, para você e quase todos de tão todos, sou um louco.
- Poeta, tenho que ir. Tenho minhas dores para cuidar. Cuide das suas. Encontre Samburá.
- Espelho, você pensa!
- Não. Eu não penso. É porque você está, agora, se olhando em mim.
- Espelho, eu sou louco?
- Muito pouco... É loucura que não se percebe.
E Poeta seguiu pela estrada, rumo à fazenda de Fred Samburá.
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Comentários:
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Toda loucura é percebida, meu caro. A gente só finge que não vê. ;)
Isso não é uma miragem. Sou eu, fazendo uma "vista de médico". ehehhe. Quisera ter tempo para mais, e acompanhar essa dupla caminhada (Poeata e seu Espelho) desde o começo...
Um beijo e um cheiro, meu amigo!
Isso não é uma miragem. Sou eu, fazendo uma "vista de médico". ehehhe. Quisera ter tempo para mais, e acompanhar essa dupla caminhada (Poeata e seu Espelho) desde o começo...
Um beijo e um cheiro, meu amigo!
Menina, olá!
Bom sentir seu cheiro por aqui. Você não faz visita de médico. Faz visita de dentista. (risos... confesso que foi boba a colocação)
Obrigado por sua visita. Sei que não foi miragem.
Bom sentir seu cheiro por aqui. Você não faz visita de médico. Faz visita de dentista. (risos... confesso que foi boba a colocação)
Obrigado por sua visita. Sei que não foi miragem.
Tu disseste..."é loucura que não se apercebe"!
Metaforicamente:
"as loucuras correm em busca de cura!"
Poetas para mim, escrevem,discrevem,re/escrevem
des/escrevem o sentir/o viver.
No teu conto , ESPELHO & POETA refletem ,mas tentam ludibriar a própria imagem.
Os nossos "NÓS" , surgem no percurso existencial,mas no teu relato surgem do imaginário.
Quiçá esteja personificado...
Subjetivamente a lição ficou em tom de aflição:
_ter ou não ter vivido tanto o verbo amar
_ não precisar;abominar celular
_ ciúme e angustia no ar
Gostei !
Fraternurinhas Azuis & Lilases
Metaforicamente:
"as loucuras correm em busca de cura!"
Poetas para mim, escrevem,discrevem,re/escrevem
des/escrevem o sentir/o viver.
No teu conto , ESPELHO & POETA refletem ,mas tentam ludibriar a própria imagem.
Os nossos "NÓS" , surgem no percurso existencial,mas no teu relato surgem do imaginário.
Quiçá esteja personificado...
Subjetivamente a lição ficou em tom de aflição:
_ter ou não ter vivido tanto o verbo amar
_ não precisar;abominar celular
_ ciúme e angustia no ar
Gostei !
Fraternurinhas Azuis & Lilases
Já estava sentindo falta de seus textos; já ia lhe cobrar... mas ao passar por aqui ví mais uma historia... E que loucura, heim?!!
Isso prova que os loucos tambem amam!!
Adorei!
bjo
P.S: Aguardo a continuação do folhetim, isso vicia.
Isso prova que os loucos tambem amam!!
Adorei!
bjo
P.S: Aguardo a continuação do folhetim, isso vicia.
Sim, Weynia, isso vicia.
Eu agradeço suas visitas e comentários ao blogue.
Eu também espero continuar esse folhetim. Gostei do seu batismo: folhetim.
Valeu mesmo.
Eu agradeço suas visitas e comentários ao blogue.
Eu também espero continuar esse folhetim. Gostei do seu batismo: folhetim.
Valeu mesmo.
Rodrigo Querido,estou a amar teu blog...Mais,não me contive em escrever,sobre o quanto fascinou-me o texto "É loucura que não se percebe"!Bárbaro!!!
Por que seu nome é espelho?
-Porque,em mim,você se via a si mesmo.
-Espelho você pensa?
-Não.Eu não penso.É porque você está agora se olhando em mim.
-Espelho eu sou louco?
-Muito pouco...É loucura que não se percebe...Bárbaro...E o0 Fred Samburá a espera...Será que ele ainda cheira à peixe?rsrs Estou louca para saber...GRANDE RODRIGO...Até me deu vontade de estar no troller à caminho do Fortim,que amo de paixão...Muitos beijos...E tome vinho...rsrs...Sabor à beijo...
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Por que seu nome é espelho?
-Porque,em mim,você se via a si mesmo.
-Espelho você pensa?
-Não.Eu não penso.É porque você está agora se olhando em mim.
-Espelho eu sou louco?
-Muito pouco...É loucura que não se percebe...Bárbaro...E o0 Fred Samburá a espera...Será que ele ainda cheira à peixe?rsrs Estou louca para saber...GRANDE RODRIGO...Até me deu vontade de estar no troller à caminho do Fortim,que amo de paixão...Muitos beijos...E tome vinho...rsrs...Sabor à beijo...
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