01 maio 2008
ALMOÇO
.
Depois daquela leitura esquisita, como fogo em palha seca espalhou-se pelas vilas da fazenda a história de um homem ainda mais louco e santo do que o finado Ribamar. Iam chegando de mansinho. Todos queriam ver de perto o Poeta. Eram homens e mulheres com as carnes afundadas em si mesmas e marcadas pelo Sol e pelo tempo e pela dor e pela raiva e pela saudade de quem nunca existiu. A maioria parecia gado fraco faminto por água esperando mais da morte do que da vida. E a estes, a presença sacra de um D'us parecia tão distante e tão presente que poderia comover o mais agnóstico dos clérigos.
Um cheiro de banha queimada saía da cozinha, e uma fumaça grossa como sal virgem ganhava o espaço infinito. Um cachorro latiu. Uma velha gorda e suada surgiu com uma panela de bronze sólida, colocando-a sobre a mesa que era tão grande que ia até ali de tão distante. Cabiam todas as pessoas que ele desejasse convidar. Mas naquele instante, bastariam ele e o Poeta.
A velha gorda, depois de servi-los, gritava e batia palmas, desorganizando a multidão, tangendo dali os miseráveis para que pudessem comer em outro lugar. A velha gorda tinha o olhar rosado e dócil, acendeu um cachimbo de fumo forte e vil, olhou para o Poeta e sorriu. O carinho da velha fez o Poeta suar de nojo e de emoção; a feição lhe era familiar.
- Essa é minha irmã, Poeta! Chama-se Ême. - disse Fred.
- Ême!? - Sim. Ême, a letra do alfabeto... Já virou tradição para alguns daqui de casa. Ah!, e ela é filha do primeiro casamento de papai, ela tem exatamente trinta anos a mais do que eu, Poeta - completou Fred.
- Entendo... - o Poeta já sacava o carinho de Ême com o sorriso de Ípsilon.
- E onde estão os outros que não vêm almoçar? - perguntou pensando em Ípsilon, que deveria estar ali em qualquer lugar.
- Esse almoço é nosso, amigo Poeta. Nosso!
- Obrigado!
- No jantar, acrescentaremos Ana, Ême, Ípsilon e Teodoro.
- Ípsilon e Teodoro? Eu os conheço? - perguntou, disfarçando sobre Ípsilon, pois a havia visto no cortejo de Ribamar.
- Duvido muito. Ípsilon é minha sobrinha; Teodoro é o cachorro da casa.
E riram mais do que se alimentavam. Ali, naquele instante, o espírito do humor era o prato principal, e deveria ser devorado até o fim, pois a alegria tem alma breve. Bem breve.
.
Depois daquela leitura esquisita, como fogo em palha seca espalhou-se pelas vilas da fazenda a história de um homem ainda mais louco e santo do que o finado Ribamar. Iam chegando de mansinho. Todos queriam ver de perto o Poeta. Eram homens e mulheres com as carnes afundadas em si mesmas e marcadas pelo Sol e pelo tempo e pela dor e pela raiva e pela saudade de quem nunca existiu. A maioria parecia gado fraco faminto por água esperando mais da morte do que da vida. E a estes, a presença sacra de um D'us parecia tão distante e tão presente que poderia comover o mais agnóstico dos clérigos.
Um cheiro de banha queimada saía da cozinha, e uma fumaça grossa como sal virgem ganhava o espaço infinito. Um cachorro latiu. Uma velha gorda e suada surgiu com uma panela de bronze sólida, colocando-a sobre a mesa que era tão grande que ia até ali de tão distante. Cabiam todas as pessoas que ele desejasse convidar. Mas naquele instante, bastariam ele e o Poeta.
A velha gorda, depois de servi-los, gritava e batia palmas, desorganizando a multidão, tangendo dali os miseráveis para que pudessem comer em outro lugar. A velha gorda tinha o olhar rosado e dócil, acendeu um cachimbo de fumo forte e vil, olhou para o Poeta e sorriu. O carinho da velha fez o Poeta suar de nojo e de emoção; a feição lhe era familiar.
- Essa é minha irmã, Poeta! Chama-se Ême. - disse Fred.
- Ême!? - Sim. Ême, a letra do alfabeto... Já virou tradição para alguns daqui de casa. Ah!, e ela é filha do primeiro casamento de papai, ela tem exatamente trinta anos a mais do que eu, Poeta - completou Fred.
- Entendo... - o Poeta já sacava o carinho de Ême com o sorriso de Ípsilon.
- E onde estão os outros que não vêm almoçar? - perguntou pensando em Ípsilon, que deveria estar ali em qualquer lugar.
- Esse almoço é nosso, amigo Poeta. Nosso!
- Obrigado!
- No jantar, acrescentaremos Ana, Ême, Ípsilon e Teodoro.
- Ípsilon e Teodoro? Eu os conheço? - perguntou, disfarçando sobre Ípsilon, pois a havia visto no cortejo de Ribamar.
- Duvido muito. Ípsilon é minha sobrinha; Teodoro é o cachorro da casa.
E riram mais do que se alimentavam. Ali, naquele instante, o espírito do humor era o prato principal, e deveria ser devorado até o fim, pois a alegria tem alma breve. Bem breve.
.
Assinar Postagens [Atom]