23 outubro 2007

 

MINHA PRIMEIRA VEZ

MINHA PRIMEIRA VEZ
Confesso que, quando lembro da minha primeira vez, solto um sorriso amarelo com um dos cantos da boca. Eu era muito inexperiente, e acreditava que aquele momento era o correto. Para ser sincero, eu não sabia como era esta situação, tinha apenas uma vaga idéia, mas, lá, na prática, percebi que a vaga idéia era vaga mesmo.

Admito com franqueza: não estava querendo provar nada para meus amigos, era algo de foro íntimo mesmo. Eu sentia que iria me sentir melhor depois desta experiência. Eu não tinha a menor sombra de dúvida que eu sairia desta vivência mais maduro, iria ser um Rodrigo diferente.Bem, apesar da idade, tive uma postura que considero digna, madura, louvável: depois de decidido, era assumir e agir.Estava no local pré-determinado por mim, antecipadamente planejado. Tudo devidamente consultado para minimizar os contratempos. Essa organização e iniciativa eu perdi com o passar dos anos. Que pena!

O ambiente era limpo, tinha um cheiro de “Kiboa” e “Pinho Sol”, penso que era exatamente para oferecer essa percepção de limpeza e higiene. Rapidamente resolvi os pormenores iniciais, e fiz uma escolha (para mim, a mais correta), pois deveria durar aproximadamente cinqüenta minutos.Logo senti falta de um ventilador. Nossa! Como aquelas hélices giratórias tornariam minha vida mais suave naquele momento.

Olhei para o pequeno ambiente. De repente envergonhei-me, lembrei de meus pais. Como seria a reação deles sabendo que eu estaria ali, e meu coração disparou. Tanto disparou que pensei que ele iria saltar boca a fora. Tentei pensar em outras coisas, e devo ter conseguido, fiquei menos nervoso.Tentei demonstrar naturalidade e experiência (enganar, apenas, a mim mesmo que não era a primeira vez). Abri a torneira da pia, que logo começou a encher, e falei alto, com a voz forte, como quem manda na situação:
- Quando a pia encher por completo, serão duas as opções: ou secar ou brincar de fazer barquinho de papel, mas eu não vim aqui para fazer barquinhos de papel! – percebi, ao mesmo tempo, a tolice que dissera e medo de ser ouvido por alguém do lado de fora, medo de chamar a atenção indevidamente.

Resolvi não mais falar nada.Não sei quanto tempo passou, mas eu estava suando, tive dificuldades iniciais, não sabia nem onde pôr as mãos, as pernas... Era quente, úmido, e o cheiro de “Kiboa” e “Pinho Sol” não faziam mais tanto sentido assim. Descobri outros aromas.

Eu poderia sentir cada gota de suor que escorria de minhas costas e, incrivelmente, senti o cheiro do meu perfume, que deve ter entrado em ação com o meu suor. Eu não tirei os óculos um só minuto. E ali estava eu, firme e forte, realizando um projeto importante na minha vida, a primeira de muitas. As seguintes viriam de forma mais natural, com menos estresse. Certamente, eu já aprendera bastante apenas com essa primeira vez.

Escutei, longe, um barulho familiar que me dava a noção do tempo. Os cinqüenta minutos estavam bem próximos do fim, e eu, sentia-me outro. Uma sensação de prazer, alívio, calor, frio, orgulho, exaltação, liberdade... Sim! Liberdade! Esse era o maior sentimento: liberdade.

Lavava-me e tentava enxugar, ao máximo, os sinais de suor, os sinais que provavam que eu estivera ali. Era algo que só pertencia a mim. A mim, somente. Bateram à porta. Não tinha mais dúvida. Os cinqüenta minutos encerraram-se. Abri a porta do minúsculo banheiro, e olhei para as pessoas de forma diferente; não sei se me viam de outro jeito (mas isso não importava), eu tinha feito. Pela primeira vez, aos dez anos de idade, gazeei aula. Religião foi a disciplina que decidi perder, e não precisei me sentir culpado. É isso aí. Estava pensando que era o quê, hem? Mente engraçada a sua. Risos.

Um beijo e uma alegria do Poeta Menor.

 

SERÁ?

SERÁ que devo voltar a atualizar este blog? Preciso de umas 27 razões para isso.

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